Imprensa e política: a luta pelo poder
Acusações recentes da revista Carta Capital à Rede Globo e à revista Veja reabrem discussões sobre a imparcialidade dos grandes veículos nacionais
por Aerton Guimarães
O rápido crescimento da imprensa, a partir da inserção dos diferentes meios de comunicação, em todas as camadas da população mundial lhe garantiu um status além do que seus criadores idealizavam. Sua capacidade de influenciar grandes decisões, entre elas as políticas, é reconhecida por muitos, que a chamam de o Quarto Poder.
O mundo acompanhou, na década de 70, o famoso caso Watergate. O jornal The Washington Post, com o trabalho dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, consolidou-se como um dos principais veículos estadunidenses. A investigação realizada pela dupla de jornalistas, partindo de denúncias de espionagens feitas durante o governo do presidente Richard Nixon, possibilitou o aparecimento de uma série de irregularidades que envolviam figurões daquele governo, da Central de Inteligência (CIA) e do FBI.
Após publicar dezenas de reportagens ao longo de dois anos, o Post, como é conhecido, provou a veracidade de suas denúncias, foi seguido e amplamente apoiado pela mídia americana. Pouco tempo depois, Nixon tornou-se o primeiro presidente a renunciar ao cargo sob pressão de um provável impeachment.
Em 1989, desta vez em terras brasileiras, outro caso demonstrou o já consolidado poder da imprensa. O debate entre os cadidatos a presidência, realizado pela Rede Globo, utilizou uma edição que beneficiava o candidato Fernando Collor. O Jornal Nacional, telejornal de maior audiência do país, transmitiu o debate manipulado e contribuiu para que Collor fosse eleito presidente, por ser o candidato “mais bem preparado”, como mostrou a edição do programa.
No entanto, dois anos depois, Collor se viu em uma fogueira na qual a revista Veja jogou álcool. Com a denúncia de capa feita por Pedro Collor, irmão do presidente, a revista impôs a necessidade do impeachment nas investigações. De tal modo que, ao fim do ano de 1992, o presidente Fernando Collor, o caçador de marajás, renunciou ao cargo na tentativa de interromper o processo de impeachment iniciado na Câmara dos Deputados. Mas de nada adiantou, pois o Senado finalizou o ato.
Dez anos depois, a capital do país teve seu maior jornal censurado. O Correio Braziliense, que vinha divulgando informações sobre o envolvimento de integrantes do GDF com os irmãos Pedro e Márcio Passos, acusados de grilagem de terras no Distrito Federal, foi censurado pela Justiça local (durante o mês de outubro de 2002, pouco antes das eleições). Sob o pedido de Joaquim Roriz e seu partido, o jornal teve diversas reportagens abortadas. O ocorrido foi repudiado pela imprensa brasileira e internacional.
Passado e presente: mudanças?
Desde 2005 temos acompanhado uma crescente onda de denúncias imprecisas nos meios de comunicação. Os poderosos veículos julgam-se responsáveis de noticiar dados com relevância nacional, esquecendo-se, no entanto, de uma das principais premissas do jornalismo: a apuração dos fatos.
As denúncias de corrupção durante o governo do PT fizeram aumentar a rivalidade entre os políticos e a imprensa brasileira. Nessa disputa vale tudo. Até mesmo veículo contra veículo, em episódios que se tornam cada vez mais constantes.
A revista Carta Capital estampou, nas capas dos dias 18 e 25 de outubro deste ano, denúncias de que a Rede Globo teria beneficiado o candidato Geraldo Alckmin ao divulgar, às vésperas das eleições, as imagens do dinheiro que o PT utilizaria para comprar o dossiê contra José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo.
Ainda na capa de 25 de outubro, a publicação acusa a revista Veja de divulgar informações errôneas a respeito do caso do dossiê. O que prejudicaria o candidato à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva.Sobre esta última acusação, o PT entrou com representação no TSE contra a revista da editora Abril, pedindo direito de resposta às acusações, que foi negada.
Os casos acima servem para ilustrar a situação em que a mídia do país se encontra. A imparcialidade vem sendo deixada de lado de uma maneira cada vez mais visível, levando os grandes veículos a se tornarem verdadeiros “editoriais” em suas páginas noticiosas, expressando a opinião de seus donos e/ou chefes de redação.
Informações e imagens manipuladas, sem contar com a publicação de notícias não confirmadas, fazem parte do dia-a-dia da imprensa brasileira. Os veículos de comunicação se dizem independentes, mas o que é ser independente? Querendo ou não, eles vivem sob o domínio dos grandes “magnatas” que possuem interesses no que publicam.
No cenário atual, podemos brincar de guerra dos mundos. De um lado, os veículos governistas. Seu maior representante é a própria revista Carta Capital. Do outro, os anti-Lula. Disputam a liderança deste grupo a Rede Globo e a revista Veja. Quem será o grande vencedor desta batalha? Mesmo com a reeleição do presidente, muita coisa ainda está para acontecer no país. Rumores de impeachment, já existentes, e uma enchente de novas acusações de corrupção podem surgir a qualquer instante.
Porém, há de ressaltar que a imprensa brasileira depende dos políticos. São eles que renovam, por exemplo, a permissão das emissoras de TV e Rádio de tempos em tempos, além de serem um dos maiores anunciantes dos jornais impressos. Ou seja, eles detêm o controle do que é imprescindível à imprensa: dinheiro. E isso pode mudar todo o jogo de interesses.
Por não poder contar com uma imprensa imparcial e nem mesmo com políticos honestos, nessa guerra de poderes, quem perde é o cidadão brasileiro.
Artigo publicado no site Campus Online em 02/11/2006.
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