terça-feira, abril 25, 2006

Além dos charutos cubanos

Hélio Doyle, Jornalista experiente e professor da Universidade de Brasília, fala um pouco de liberdade de imprensa e desenvolvimento cultural no país de Fidel Castro
Aerton Guimarães

Entusiasta quando o assunto é Cuba e seu sistema socialista, já se passaram mais de 15 anos desde a primeira visita que Hélio Marcos Prates Doyle fez ao país. Na época, o que o motivou foi sua tese de doutorado, já que Cuba era seu objeto de estudo, principalmente seu sistema político. Mas ao longo dos últimos anos ele fez questão de ir ao país tanto a trabalho como por curiosidade para entender como funciona a ilha socialista da América Latina.

Questionado sobre a situação da imprensa cubana, Doyle afirmou que uma das maiores dificuldades é a falta de liberdade, já que ela não pode ser objetiva como é nos países capitalistas. E fez questão de frisar que são sistemas diferentes, o que acaba impossibilitando uma comparação de fato, embora acredite que, dentro do conceito socialista, Cuba não está na contra mão no quesito liberdade de imprensa, já que esta “é um subsistema de um sistema político”.

Em Cuba, a imprensa pertence ao Estado, e isso é um conceito socialista. A empresa privada contraria a restrição da prioridade. E foi a partir desse pensamento que o jornalista e professor defendeu que não há um abismo tão grande quando se fala da liberdade de imprensa brasileira e cubana, questionando o que é afinal essa liberdade. “Todos aqui (no Brasil) podemos ler, mas quantos podemos ter um jornal?”, exemplificou.

Um outro ponto que Doyle fez questão de ressaltar é a capacidade que Cuba ainda possui para se manter afastada dos Estados Unidos, ainda que, mesmo com o embargo econômico, a cultura deste país esteja se difundindo cada vez mais na ilha. A uma distância de 160 km dos americanos, “Cuba fica mais perto dos EUA que nós de Goiânia”, completa o professor. E disse que se a imprensa se abrir (os canais americanos são bloqueados na TV aberta), com certeza os EUA invadiriam o país.

O documentário que surgiu por acaso

Quando trabalhava na produtora Ema Vídeo, durante a década de 90, Doyle foi à Cuba para fazer um documentário. Despreparado, não sabia direito qual tema iria abordar e nem quais perguntas fazer à população, o que não o prejudicou, já que as pessoas reagiram de forma inesperada. “As pessoas falavam muito. Reclamavam muito”, afirma surpreso. Antes de chegar ao país, o jornalista esperava encontrar pessoas bastante comedidas e sob uma repressão presente, militarizada, e não foi o que encontrou. Ele teve liberdade para gravar imagens com várias pessoas, ao contrário do que esperava, e elas falavam sobre o que queriam.

A partir da captação de materiais e informações, o jornalista decidiu realizar dois documentários em Cuba. O primeiro, considerado bastante tendencioso até por ele mesmo, mostra um país diferente do que comumente imaginamos, forte e desenvolvido. Cuba, o poder popular, apresenta um país bem estabelecido, embora as condições fossem contrárias a qualquer tipo de desenvolvimento econômico e social.

Já a idéia para o segundo documentário surgiu de repente. Ao andar pelas ruas cubanas, Hélio Doyle deparou-se com uma cena um tanto quanto diferente: avistou um grande número de crianças, bem branquinhas, e que não pareciam pertencer àquele país. Ao perguntar a alguém que estava próximo, obteve a resposta que serviu como impulso ao próximo documentário: eram crianças vítimas do acidente nuclear de Chernobyl, União Soviética, ali presentes para serem tratadas gratuitamente pela avançada medicina cubana.

O primeiro documentário não foi bem recebido aqui no Brasil e por isso praticamente nenhuma emissora o transmitiu. Já o segundo, denominado Crianças de Chernobyl, foi transmitido por vários canais de TV e recebeu inúmeros prêmios.

Impressões

Ao conviver com diversos cubanos e acompanhar o dia-a-dia da população, Doyle constatou a diferença, principalmente em níveis educacionais, que Cuba possui. “O povo cubano é muito bem informado. Eles sabem mais sobre o mundo do que nós (brasileiros)”, reconhece.

Ressaltou também a importância que a cultura possui para o país. Bastante aberta aos avanços culturais, a ilha é bem desenvolvida sobretudo no quesito música, dança e cinema. E lembrou também dos problemas pelos quais os cubanos passam. “A repressão social é muito maior que a política”, afirma.

Questionado sobre o porquê do preconceito existente contra Cuba e Fidel Castro, o professor respondeu que o principal motivo que leva a esse pensamento é a desinformação.

Entrevista coletiva com o professor Hélio Doyle, com o tema "Cuba" . Para a disciplina Técnicas de Jornalismo.

1 Comments:

At 14 maio, 2006, Anonymous Anônimo said...

Caralho, um jornalista que elogia um governo que mata jornalistas.

 

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