Persistência negativa
Domingo de manhã, 1989. Eu morava em um apartamento da quadra 25 do Guará I e estava com três anos. Ainda era baixinho e muito magro. E o que causou o grande problema do dia: eu não conseguia alcançar o interfone da portaria.
Minha tia e irmã estavam de saída, não me lembro o destino, mas havia algo em seu carro que eu deveria pegar, por isso desci com elas. Lembrando de minha estatura, me esforcei para deixar a portaria apenas encostada, pois se fechasse não conseguiria ser ouvido por ninguém, pois repito, não alcançava o interfone.
Fui ao carro de minha tia, onde deixei as duas e recolhi uma sacola. Ao voltar, percebi que a porta estava fechada! Como aquilo era possível? Eu não havia apenas encostado? Deve ter sido algum vizinho então.
Empurrei a porta levemente, mas ela não se moveu. Forcei um pouco mais e nada. Estava preocupado. E agora? O que faria? Não tinha como gritar na janela, pois minha mãe não ouviria, já que morávamos no 5º andar.
Segui pelo caminho mais simples: forçar a barra, ou melhor, a porta, que era de vidro. Tomei distância e empurrei com todas as minhas forças. Percebi então o quão fraco eu era.
Minha última tentativa. Distanciei-me o tanto quanto pude, até encostar na parede que havia em frente à portaria. Uns três metros, mas quando temos pouco mais de um metro de altura, qualquer distância nos parece enorme.
Impulsionado pela parede de cimento, corri o mais rápido que pude até irromper abruptamente o vidro da porta. Senti os cacos de vidro adentrarem minha pele. Minha mão, braço e rosto instantaneamente começaram a sangrar.
A partir daí só me lembro de estar sentado sangrando em uma pequena cadeira (condizente com o meu tamanho) em meu apartamento, enquanto minha mãe me via com um olhar desesperado, esperando meu pai chegar com o carro para me levar ao hospital.
Levei 8 pontos no braço e mais alguns pelo corpo e nunca mais quebrei nada de vidro, bom, pelo menos não intencionalmente.
Para a disciplina Oficina de Texto
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