Dez lições contra as drogas
Inspirado em programa criado nos Estados Unidos, Proerd faz importante trabalho preventivo entre os alunos do Ensino Fundamental. Crianças são conscientizadas dos malefícios causados pelos entorpecentes
Aerton Guimarães
O envolvimento de crianças, adolescentes e jovens com drogas é cada vez mais comum. Nas festas e até nas proximidades das escolas já é corriqueiro ver crianças de até 12 anos preparando o “suco gammi”, mistura de água, suco em pó e uma grande quantidade de vodka ou de cachaça. Outros tipos de drogas estão sendo consumidos em quantidade maior. E o que mais preocupa: os jovens ingressam nesse mundo a partir do uso do cigarro, álcool e maconha, principalmente, e têm acesso a essas drogas por meio de traficantes e colegas de escola.
Devido ao aumento do consumo de drogas lícitas (legais, como o álcool) e ilícitas (proibidas, a exemplo da maconha) entre crianças e adolescentes em idade escolar e também à ineficácia das campanhas preventivas feitas pelos órgãos públicos e privados, tornou-se necessário um trabalho efetivo e contínuo de prevenção ao uso de drogas entre os jovens que, supõe-se, ainda não tiveram contato com essas substâncias.
Foi daí que surgiu o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, o Proerd. Esse programa tem como modelo o D.A.R.E (Drug Abuse Resistance Education), programa desenvolvido em 1982 em Los Angeles, Estados Unidos, no qual a polícia desenvolve um papel fundamental na prevenção ao uso de drogas pelas crianças.
O programa criado pelos estadunidenses contempla a atuação de policiais de forma preventiva, didática e pioneira juntamente com as crianças. Desenvolvido por um grupo composto por psicólogos, psiquiatras, policiais e pedagogos, sob coordenação da psico-pedagoga Ruth Riche, o DARE obteve sucesso em todos os Estados norte-americanos, como posteriormente em mais de 50 países conveniados ao programa. A necessidade de um programa como esse fez com que ele chegasse ao país, primeiro no Rio de Janeiro, em 1992, um ano depois em São Paulo e, em 1998, em Brasília.
O Proerd é um programa de caráter social preventivo, que foi adequado no Brasil para os alunos de 4ª e 6ª séries do Ensino Fundamental. De acordo com a tenente Renata Cardoso, coordenadora do programa no Distrito Federal, as crianças com idades entre nove e 12 anos são as ideais para receber as lições do programa, pois é nessa idade que se tornam mais independentes da família. “A criança sai dos braços dos pais e se deixa levar pela pressão dos colegas. É aí que elas podem se deparar com as drogas”, observa a tenente.
O objetivo do Proerd é conscientizar as crianças dos malefícios das drogas para o organismo e a vida em geral, tornando-as mais críticas e capazes de resistir às pressões para usarem entorpecentes e também de dizer não à violência. Nas aulas elas recebem as informações necessárias. O programa também trabalha a auto-estima, além de ensinar os estudantes a tomarem decisões e a pensarem nas conseqüências de seus comportamentos.
A estudante do Colégio Rogacionista, Bruna Gomes, de 11 anos, participa do programa e não perde uma aula. “As aulas são interessantes e informativas. Antes delas eu podia até saber que as drogas faziam mal, mas não tanto”, explica. Ela diz que todos em sua turma gostam muito das aulas, pois conhecem um pouco mais sobre as drogas e se divertem aprendendo com o policial instrutor.
O trabalho depende da participação de três principais vias: a Escola, a família das crianças e adolescentes e o Batalhão Escolar da Polícia Militar, responsável por colocar em prática o programa. No total são dez lições para cada turma, na qual um policial fardado trabalha com uma apostila que exemplifica os malefícios psíquicos, físicos e sociais causados pelas drogas, além de tirar as dúvidas dos estudantes.
“Com a figura do policial fardado, a criança tem outra visão dele, pois passa a vê-lo como amigo e não mais com aquela imagem negativa”, explicou Renata. Várias atividades são oferecidas aos alunos, tanto dentro como fora de sala de aula, o que ajuda a preparar para o futuro uma geração consciente do exercício de sua cidadania.
Desde 2002 o programa existe em todos os estados brasileiros. No DF são 42 instrutores atuando neste semestre em várias escolas, que já formaram mais de 200 mil crianças no programa ao longo desses sete anos. Para participar do Proerd a escola interessada deve enviar ofício ao Batalhão Escolar do Guará I e, a partir de estudos de estatísticas do colégio e prioridades, poderá ser selecionada. Têm prioridade as escolas públicas.
Como o programa é implantado
O início do programa na escola é precedido por uma reunião com pais e educadores com o objetivo de divulgar o programa e orientar o engajamento e a participação de todos no processo. O policial deve comparecer à escola fardado, uma vez por semana, ao longo de um semestre, acompanhado do professor da turma, para ministrar as aulas.
As aulas estão organizadas em uma cartilha oferecida aos estudantes pela Secretaria de Educação que contém 10 lições. Além do livro do estudante, a criança recebe uma camiseta e um boné com a logomarca do programa, os quais serão distribuídos no dia da formatura juntamente com um certificado de conclusão do curso, quando o formando presta o compromisso, diante da polícia, da escola e da família, de resistir às drogas e à violência.
O corpo de instrutores é composto por policiais militares voluntários, os quais são selecionados observando-se a conduta moral e a experiência policial e com atividades sócio-educativas. Para serem selecionados, eles passam por vários testes e o crivo de uma banca examinadora composta por pedagogos e policiais. Depois fazem um curso de duas semanas na qual aprendem um pouco de pedagogia, entre outras coisas, e assim passam por um estágio supervisionado de seis meses atuando nas escolas.
DF é pioneiro na inclusão do Proerd no Ensino Especial
Brasília foi a primeira cidade do mundo a incluir o Ensino Especial no Proerd. Desde o ano passado, os alunos das classes inclusivas e escolas especiais também recebem a visita dos instrutores do programa, os quais trabalham com uma cartilha toda reformulada, adaptada para as crianças portadoras de necessidades especiais.
De acordo com a professora Mariany Matos dos Santos, que ajudou os instrutores na adaptação da cartilha, o resultado do trabalho foi muito positivo. “Fizemos uma parceria muito boa com a Polícia Militar. Eles mandaram um instrutor experiente nessa área de Ensino Especial e nós demos todo o suporte”, ressaltou a professora.
A implementação do programa para crianças especiais é importante, pois muitas vezes elas são usadas por traficantes como meio de acesso às drogas mesmo sem perceber. Com acompanhamento e aulas diferenciadas do ensino regular, elas aprendem com muitos exemplos e ilustrações a dizer não às drogas.
Capitão cobra dos pais comunicação com os filhos
As drogas apreendidas com maior freqüência nas escolas do Distrito Federal são bastante conhecidas dos jovens. Em primeiro lugar vem o álcool, seguido pela maconha, tabaco e merla. Esses são dados preocupantes, pois mostram que a influência da família também é um fator estimulante para o uso das drogas, mesmo que sejam as lícitas.
O capitão Cristiano Guedes, chefe da 3º seção do 6º Batalhão Escolar do Guará, diz que é necessário combater o uso do álcool e tabaco, além das drogas proibidas, pois se tornaram drogas banalizadas em razão de sua condição legal.
As crianças e adolescentes podem entrar em contato com as drogas muito facilmente nos dias atuais. Elas estão presentes na escola, na rua, com os colegas, em festas e shows. E até em casa no caso das drogas lícitas. É o caso do pai, que deixa um maço de cigarros à mostra ou mesmo uma lata de cerveja na geladeira, sem atentar para o fato de que, por causarem dependência química, o tabaco e a bebida alcoólica também são drogas.
De acordo com o capitão Guedes, as jovens buscam as drogas devido à falta de orientação da família. “Os pais devem participar da vida dos filhos, passar carinho e segurança. Se o pai pelo menos olhasse o que tem dentro da mochila do filho, as coisas já seriam diferentes”, sugere.
Essa falta de comunicação faz com que as crianças não tenham discernimento para saber o que é certo ou errado.
No ano passado, 41 armas de fogo foram apreendidas com jovens pela Polícia Militar. Destas, 10 estavam com estudantes. Além disso, foram pegos três alunos embriagados, quatro acusados de tráfico e 19 de porte e consumo de drogas. Números que poderiam ser maiores se a polícia tivesse um efetivo maior nas ruas.
Matéria especial do suplemento Escola/ jornal Planalto Central - 9 a 16 de novembro de 2005
2 Comments:
WAZZZZZZZZZZZZZZZ UPPPPPPPPPPPPPPPP???????????????????????
Go raiders! Meow meow!
A escola classe 48 do setor p sul não vai ministrar o PROERD para as 4ª deste ano, motivo desorganização interna. Os alunos estão chateados pois não terão outra oportunidade.
Quem poderá nos defender??????
alunos da 4ªsérie
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