sexta-feira, dezembro 09, 2005

A solidão da Águia

A solidão da Águia
Aerton Guimarães

Tenho coragem para lutar com os mais temíveis predadores, pois sou o rei dos ares. Mas de que isso adianta, se não tenho com quem partilhar minhas alegrias pós - vitórias?

Minha força vai além do meu olhar e é imensamente maior que minha beleza. No entanto, para quê saber disso se não tenho para quem vangloriar-me?

Com determinação sei que tudo posso. Ouço as vozes dos campos e o eco do mar. Vejo a imensidão do céu e as grandes árvores da Terra. Sinto a frieza da atmosfera, e a solidão do ar.

Durante toda a minha vida quis ser igual aos outros. Ter um lugar para descansar e alguém para acalentar. Queria poder contar meus anseios, esclarecer minhas dúvidas e discutir meus pensamentos.

Quero sentir-me parte de todos os lugares pelos quais passei. Quero mover montanhas com um simples olhar. Quero relaxar ao sentir a brisa e as gotas refrescantes da chuva e, claro, quero ser o melhor ao voar.

Sinto-me sozinho, mas nunca tive coragem de contar a ninguém. Tento viajar pelos caminhos mais belos. Ver as orquídeas, as rosas e os mais verdejantes bosques, além de conhecer os rios cintilantes. Quero ver o que não consigo, e por isso vou além. Nunca desisto, porém o cansaço começa a me desanimar.

Consigo sempre me renovar. Ao encontrar uma bom lugar para refletir, é lá que inicio todo o processo. São horas, dias, semanas e às vezes meses. Primeiro o bico, já gasto por toda uma vida. Depois as garras, que após tantas presas e aterrissagens perigosas, necessitam ser trocacas. E finalmente as penas, que me proporcionarão um bom deslize ao voar. É um ciclo doloroso, todavia necessário, o qual me permitirá viver por longos anos saudavelmente.

E repito: para quê tudo isso? Não me sinto feliz. Não me sinto completo. Posso ver tudo por cima, mas de que isso adianta se não consigo interagir? Se tudo o que penso é que estou preso numa jaula que se chama solidão? Penso naquilo que poderia ter vivido e nos lugares inexplorados. Penso no que não vi, e também no que não senti.

Quando morrer, não quero tristezas nem lamentações. Quero que o sol nasça, resplandecente como sempre, dando vida ao inanimado e iluminando o antes escurecido. E que se ponha, com sua beleza singular, em mais uma dia igual aos outros.

Texto para a disciplina Oficina de Texto - 2º semestre de 2005

2 Comments:

At 09 dezembro, 2005, Anonymous Anônimo said...

A figura ficou td a ver com o texto... Retrata muito bem a solidão...

 
At 10 dezembro, 2005, Anonymous Anônimo said...

Caramba!!! Eis aí a Águia... mostrando q a força tem também o seu ponto fraco!

 

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