sábado, novembro 25, 2006

Além do horizonte

quarta-feira, novembro 22, 2006

Pôr do sol

Pontão do Lago Sul - 19/11/2006

domingo, novembro 19, 2006

Crítica

Crítica do livro Jornalismo em "tempo real" - O fetiche da velocidade, de Sylvia Moretzsohn
por Aerton Guimarães


Jornalismo em “tempo real” – O fetiche da velocidade, de Sylvia Moretzsohn é, antes de tudo, um título mal pensado. A abrangência da obra vai muito além do que o nome sugere. Na realidade, o tema inspirador, que é o título do terceiro e último capítulo do livro, é abordado de forma simplista quando comparado ao outros assuntos retratados.

Demonstro minha indignação única e exclusivamente devido a esse fato, pois cheguei a sentir-me lesado no início de minha leitura. Onde estaria o “tempo real” proclamado em sua capa? Decidi comprar o livro devido às associações que fiz com as coberturas ao vivo do jornalismo, conectando a fatos recentes televisionados e também relatados quase que instantaneamente pela internet.

Acabei criando expectativas, o que muitas vezes me é prejudicial. Ao passear pelo primeiro capítulo da obra, ficou nítido que o objetivo da autora não era discorrer sobre o tema que eu aguardava. O principal foco não eram os erros e abusos cometidos pela falta de preparo e tempo dos repórteres e as redações dos jornais, mas sim os mais diversos aspectos do jornalismo, de uma maneira muito ampla.

A internet, meio de comunicação que acredito caracterizar melhor a expressão “cobertura em tempo real” nos dias de hoje, foi superficialmente tratada pela autora. Análises profundas sobre o jornalismo on-line não foram apresentadas, talvez por ainda não haver estudos concretos e confiáveis nesta área tão recente da Comunicação. É importante dizer, portanto, que a obra foi publicada em 2002, período em que o jornalismo na internet ainda dava passos em falso na busca pelo seu espaço na imprensa.

No entanto, o que encontrei foi uma obra repleta de verdadeiras aulas de jornalismo. Coisas que não temos em sala de aula, mas que aprendemos suas lições quando estamos, de fato, vivenciando a profissão, principalmente em uma redação de jornal.

Muitas das questões apresentadas no livro só passaram a fazer parte do meu dia-a-dia quando comecei a estagiar em um jornal como repórter e, alguns meses depois, em menor grau, com a vivência de trabalhar em uma redação on-line, a disciplina Campus 1 da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.

A manipulação de informações utilizando-se textos e imagens, o ritmo de produção de notícias, a relação com as fontes, a informação vista como mercadoria, a competitividade do mercado, a necessidade de ser um jornalista multimídia, e exemplos do mau jornalismo são alguns dos temas colocados em debate, sob um ponto de vista mais crítico, pela autora Sylvia Moretzsohn com o auxílio de uma vasta bibliografia com obras de jornalistas e estudiosos da Comunicação.

Temas que nos levam a refletir e a duvidar de nossas intenções enquanto jornalistas: queremos ser tradutores ou apenas um canal para transmitir notícias? E afinal, o que é notícia e para quem trabalhamos? Uns afirmam que o compromisso do jornalista é, antes de tudo, para com a verdade e conseqüentemente com o leitor. Porém, essa afirmação não é questionável? Qualquer empresa visa os lucros, por que com as empresas de comunicação seria diferente?

E desde o início do livro, a autora nos leva a realizarmos inúmeras indagações sobre a prática do jornalismo a partir da contextualização dos fatos.

Especificidades
As explicações iniciais da obra buscam retratar as modificações ocorridas ao longo dos anos a partir da evolução do capitalismo e a chegada da era moderna. O ritmo da comunicação se transformou profundamente em todo o mundo, tendo o jornalismo como principal acompanhante desse ritmo acelerado. Fosse pelo desenvolvimento de novas tecnologias ou com a agilidade dos repórteres na hora de redigir as matérias, ele sempre esteve presente no cotidiano das pessoas.

A supervalorização do instantâneo, do volátil e da era do descartável prevaleceu. O que não é novo é ultrapassado, e por isso os jornais vivem de assuntos quentes. Se algo ocorreu hoje, deve ser divulgado o mais rápido possível, se não vira passado e demonstra a inabilidade do veículo em acompanhar fatos diários, fazendo-o perder credibilidade.

Sylvia ressalta em sua obra o poder da televisão e a credibilidade que esta possui, ao transformar o telespectador em uma testemunha ocular da “história em movimento” (p. 48). E faz uma ótima associação ao pensamento de Ramonet1 de que “ver é compreender”, o que me fez lembrar de um recente debate realizado na Faculdade de Comunicação, em que a professora de Jornalismo Célia Ladeira apontou entre os motivos que podem caracterizar a televisão como um item iluminista, o fato de o aparelho conseguir esclarecer os fatos mostrando imagens que comprovam, na teoria, como eles verdadeiramente acontecem (imagens não manipuladas, obviamente).

Ao questionar o que é notícia, a autora levanta uma das questões mais debatidas entre estudiosos e jornalistas. Qual a autoridade que editores possuem ao analisar o que deve ou não ser divulgado? Com a desculpa de que “o povo tem o direito de saber”, os jornais publicam o que é de seu interesse. E garantem estar a serviço da população. Será isso possível? A falta de tempo do jornalista o impede de aprofundar-se nas próprias matérias que redige diariamente. Teria ele disponibilidade para conversar com seu público com o objetivo de descobrir se seu trabalho está sendo bem recebido? Ou apenas para saber se as notícias que um noticiário veicula são realmente de seu interesse?

Discussões a respeito da noticiabilidade são válidas, apesar de não ser possível chegar a um consenso do que seria o melhor a fazer no processo de escolha das informações. Baseada em vários autores, Sylvia consegue levantar um debate rico e consistente em diversos momentos.

Citações como a do autor Alexander Cockburn2 ilustra bem a que ponto o Jornalismo chegou a respeito do que é notícia para os veículos de comunicação:

Os editores devem se lembrar que há extensas partes do mundo nas quais as pessoas não existem a não ser em grupos de mais de 50 mil. Antes de chegar a tais hordas, comecemos por cima. A morte de um americano famoso pode sempre ser registrada, ainda que tenha ocorrido nas circunstâncias menos relevantes. Se o americano for um ilustre desconhecido, é preciso que morram pelo menos dois ou três (ou apenas um, em circunstâncias bem singulares) para que mereça alguma atenção. No caso dos negros, o número tem de ser muito maior. Na categoria seguinte, vêm os europeus do norte. Conte dez deles para cada americano. Depois, temos os europeus do sul (italianos, espanhóis, portugueses, gregos). Conte uns 30 deles para cada americano. Depois, os turcos, persas e latino-americanos. Conte uns cem destes para cada americano. (...) Especialistas calculam que somente uns 50 mil indianos seriam capazes de igualar, em termos de notícias, ao total de 10 americanos. (p.66)

Críticas ferrenhas são voltadas ao ritmo veloz de produção no jornalismo, que obriga repórteres a divulgarem informações sobre as quais não têm certeza além de reduzir a “possibilidade de reflexão no processo de produção da notícia” (p.70). Tal fato influencia diretamente a qualidade das reportagens, já que averiguações são muitas vezes descartadas do processo de construção da notícia. A necessidade de repassar a informação em primeira mão deprecia a prática do jornalismo, ao meu ver, apesar de considerar o “furo de reportagem” bastante prazeroso.

Um caso recente ao qual podemos associar o problema do jornalismo em tempo real é a cobertura realizada do acidente com o avião da Gol no dia 29 de setembro deste ano. Logo após a divulgação de que uma aeronave teria desaparecido dos radares da aeronáutica, algumas emissoras de televisão iniciaram uma cobertura intensiva e ao mesmo tempo vazia sobre o fato. Imagens de acidentes aéreos antigos eram mostradas enquanto repórteres apresentavam hipóteses do que teria acontecido, misturando informações não confirmadas da Aeronáutica com depoimentos de pessoas da região da Serra do Cachimbo, onde o avião caiu.

Foi angustiante acompanhar tal cobertura, já que não existiam novas informações que justificassem uma apresentação em tempo real. O que se viu foi um trabalho amador e sensacionalista das emissoras. E na internet não foi diferente. Reconhecidos sites de notícias publicavam, de minuto em minuto, informações soltas sobre o acidente, embora também sem confirmação.

Exemplificando ainda com o caso do avião da Gol, é possível analisar outra questão levantada no livro: a maneira com a qual os próprios veículos se pautam. No dia do acidente, em muitos momentos os repórteres da televisão afirmavam receber as últimas informações vindas desse ou daquele endereço eletrônico.

E é o que observamos diariamente. O pensamento é sempre o mesmo: “se tal veículo está publicando, temos que publicar também”. Com isso, mesmo não sendo tão relevantes para a população, alguns assuntos têm a obrigação de serem publicados com o único objetivo de não deixar o veículo passar a imagem de que está sendo ultrapassado por outros.

Após dissecar o jornalismo, a melhor conclusão que podemos chegar é: que tipo de jornalista quero ser? E qual a melhor maneira de exercer a profissão seguindo meus princípios éticos?

Assim, Jornalismo em “tempo real” – O fetiche da velocidade é um prato cheio capaz de suscitar calorosos debates nas salas de aula das faculdades de Jornalismo. Levantei aqui apenas algumas das questões retratadas na obra, as quais servem como ponto de partida para análises mais profundas de temas diferenciados no Jornalismo.

1 – Ramonet, Ignacio. A tirania da comunicação. Petrópolis, Vozes,1999, p.26.
2 - Death Rampant! Readers Rejoice, in Stop the Presses, I Want to Get Off, New York, Delta Books, 1976, pp. 14-15, apud. Argemiro Ferreira, “Informação e dominação”, in Chico Nelson et al., Jornalistas pra quê? (os profissionais diante da ética), Rio de Janeiro, Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, 1989, pp.109/110.

terça-feira, novembro 14, 2006

Psicadélica

domingo, novembro 05, 2006

Por que ser jornalista?

Ser jornalista é mais que contar estórias. É mais que contar histórias. É uma profissão que nos possibilita viver num mundo de constantes mudanças. É estar sempre aprendendo, se renovando.

Desde criança eu já pensava sobre o jornalismo. Que programa de TV era aquele que prendia a atenção de meus pais diariamente? Enquanto ele estava no ar, eu só podia fazer bagunça ou conversar com eles durante os comerciais.

E que tanto de papel era aquele que meu pai lia costumeiramente nas manhãs, no qual ele parecia se desligar do mundo, mas que na verdade ele estava se informando sobre o mesmo?

Com o tempo percebi a importância do jornalismo. Transmitir a notícia, tornar comum a todos um acontecimento, é imprescindível em nossa sociedade. E atingir diversas camadas sociais, com a mesma abordagem, é um desafio.

Na era do jornalismo em “tempo real”, presenciamos a história, devido a instantaneidade com que o fato é repassado graças aos avanços tecnológicos, sempre acompanhados pelos meios de comunicação.

É dever do jornalista investigar, apurar e tornar público os acontecimentos pertinentes à população. A imparcialidade, uma base da qual o jornalista deve se apoiar, possibilita o surgimento de um senso crítico próprio de quem recebe a notícia. E a integridade deve ser uma de suas principais qualidades.

A responsabilidade social é uma das questões que me atraem nessa profissão. É impressionante a quantidade de transformações que podemos ocasionar a partir de um texto publicado num jornal ou com uma matéria de telejornal. Seja denunciando os problemas que podem ser resolvidos, mostrando males para que as pessoas possam se precaver, tornando comum algo de importância histórica ou apenas motivando as pessoas com textos reflexivos e matérias mais humanas, o objetivo de concretizar um serviço para o bem público é inspirador.

Talvez eu não me depare com as situações que almejo. Porém, ainda assim, acredito ser capaz de modificar muitos aspectos negativos à minha volta como jornalista. E são justamente essas oportunidades que terei como um profissional que me motivam a querer realmente isso para minha vida.

Redigido originalmente para a disciplina Introdução ao Jornalismo, em abril de 2005.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Imprensa e política: a luta pelo poder

Acusações recentes da revista Carta Capital à Rede Globo e à revista Veja reabrem discussões sobre a imparcialidade dos grandes veículos nacionais
por Aerton Guimarães

O rápido crescimento da imprensa, a partir da inserção dos diferentes meios de comunicação, em todas as camadas da população mundial lhe garantiu um status além do que seus criadores idealizavam. Sua capacidade de influenciar grandes decisões, entre elas as políticas, é reconhecida por muitos, que a chamam de o Quarto Poder.

O mundo acompanhou, na década de 70, o famoso caso Watergate. O jornal The Washington Post, com o trabalho dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, consolidou-se como um dos principais veículos estadunidenses. A investigação realizada pela dupla de jornalistas, partindo de denúncias de espionagens feitas durante o governo do presidente Richard Nixon, possibilitou o aparecimento de uma série de irregularidades que envolviam figurões daquele governo, da Central de Inteligência (CIA) e do FBI.

Após publicar dezenas de reportagens ao longo de dois anos, o Post, como é conhecido, provou a veracidade de suas denúncias, foi seguido e amplamente apoiado pela mídia americana. Pouco tempo depois, Nixon tornou-se o primeiro presidente a renunciar ao cargo sob pressão de um provável impeachment.

Em 1989, desta vez em terras brasileiras, outro caso demonstrou o já consolidado poder da imprensa. O debate entre os cadidatos a presidência, realizado pela Rede Globo, utilizou uma edição que beneficiava o candidato Fernando Collor. O Jornal Nacional, telejornal de maior audiência do país, transmitiu o debate manipulado e contribuiu para que Collor fosse eleito presidente, por ser o candidato “mais bem preparado”, como mostrou a edição do programa.

No entanto, dois anos depois, Collor se viu em uma fogueira na qual a revista Veja jogou álcool. Com a denúncia de capa feita por Pedro Collor, irmão do presidente, a revista impôs a necessidade do impeachment nas investigações. De tal modo que, ao fim do ano de 1992, o presidente Fernando Collor, o caçador de marajás, renunciou ao cargo na tentativa de interromper o processo de impeachment iniciado na Câmara dos Deputados. Mas de nada adiantou, pois o Senado finalizou o ato.

Dez anos depois, a capital do país teve seu maior jornal censurado. O Correio Braziliense, que vinha divulgando informações sobre o envolvimento de integrantes do GDF com os irmãos Pedro e Márcio Passos, acusados de grilagem de terras no Distrito Federal, foi censurado pela Justiça local (durante o mês de outubro de 2002, pouco antes das eleições). Sob o pedido de Joaquim Roriz e seu partido, o jornal teve diversas reportagens abortadas. O ocorrido foi repudiado pela imprensa brasileira e internacional.

Passado e presente: mudanças?

Desde 2005 temos acompanhado uma crescente onda de denúncias imprecisas nos meios de comunicação. Os poderosos veículos julgam-se responsáveis de noticiar dados com relevância nacional, esquecendo-se, no entanto, de uma das principais premissas do jornalismo: a apuração dos fatos.

As denúncias de corrupção durante o governo do PT fizeram aumentar a rivalidade entre os políticos e a imprensa brasileira. Nessa disputa vale tudo. Até mesmo veículo contra veículo, em episódios que se tornam cada vez mais constantes.

A revista Carta Capital estampou, nas capas dos dias 18 e 25 de outubro deste ano, denúncias de que a Rede Globo teria beneficiado o candidato Geraldo Alckmin ao divulgar, às vésperas das eleições, as imagens do dinheiro que o PT utilizaria para comprar o dossiê contra José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo.

Ainda na capa de 25 de outubro, a publicação acusa a revista Veja de divulgar informações errôneas a respeito do caso do dossiê. O que prejudicaria o candidato à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva.Sobre esta última acusação, o PT entrou com representação no TSE contra a revista da editora Abril, pedindo direito de resposta às acusações, que foi negada.

Os casos acima servem para ilustrar a situação em que a mídia do país se encontra. A imparcialidade vem sendo deixada de lado de uma maneira cada vez mais visível, levando os grandes veículos a se tornarem verdadeiros “editoriais” em suas páginas noticiosas, expressando a opinião de seus donos e/ou chefes de redação.

Informações e imagens manipuladas, sem contar com a publicação de notícias não confirmadas, fazem parte do dia-a-dia da imprensa brasileira. Os veículos de comunicação se dizem independentes, mas o que é ser independente? Querendo ou não, eles vivem sob o domínio dos grandes “magnatas” que possuem interesses no que publicam.

No cenário atual, podemos brincar de guerra dos mundos. De um lado, os veículos governistas. Seu maior representante é a própria revista Carta Capital. Do outro, os anti-Lula. Disputam a liderança deste grupo a Rede Globo e a revista Veja. Quem será o grande vencedor desta batalha? Mesmo com a reeleição do presidente, muita coisa ainda está para acontecer no país. Rumores de impeachment, já existentes, e uma enchente de novas acusações de corrupção podem surgir a qualquer instante.

Porém, há de ressaltar que a imprensa brasileira depende dos políticos. São eles que renovam, por exemplo, a permissão das emissoras de TV e Rádio de tempos em tempos, além de serem um dos maiores anunciantes dos jornais impressos. Ou seja, eles detêm o controle do que é imprescindível à imprensa: dinheiro. E isso pode mudar todo o jogo de interesses.

Por não poder contar com uma imprensa imparcial e nem mesmo com políticos honestos, nessa guerra de poderes, quem perde é o cidadão brasileiro.

Artigo publicado no site Campus Online em 02/11/2006.